Autor: Maiara Lopes da Silva; Monica Cavaignac
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo abordar a problemática da seca no Ceará, na transição do século XIX para o século XX, como uma expressão da questão social, cuja gênese está associada ao cercamento das terras para a mercantilização da produção agrícola e cujas repercussões – relacionadas às “invasões” da cidade pelos “flagelados” – colocam para os governantes a necessidade de estratégias de controle do caos social que passa a contrastar com o processo de aformoseamento de Fortaleza. As assimetrias socioeconômicas e as relações clientelistas características da sociedade cearense acabaram por transformar as soluções de combate à seca em condições para a sua reprodução como instrumento de dominação política e de exploração econômica de uma população analfabeta e miserável, disposta a trabalhar em troca de uma “ração” que a sustentasse viva. Desse modo, mais do que um problema climático, ligado à localização geográfica do Estado na região do polígono das secas, as estiagens apresentaram-se como um fenômeno de ordem social, que contribuiu significativamente para o crescimento demográfico da capital cearense, bem como para o aumento das desigualdades sociais – que fazem de Fortaleza uma cidade marcada por contrastes, abrigando um crescente número de pessoas em situação de pobreza enquanto se segue o caminho da “modernidade”.